MORADA DA LINHAGEM
Nesse carnaval fiz um retiro na minha própria casa.
Filhos criados encaminhados na vida, já deixaram o ninho, esse ninho se encontrava ligeiramente caótico.
Não foi uma tarefa simples, ao contrário, em todos os pontos de vista: físico - mover objetos, algum mobiliário; intelectual - ter uma estratégia de organização; emocional - lidar com todas as memórias de uma vida inteira....
O fisico se comportou dentro do possível, minha antológica tosse alérgica não gostou nada. Nem percebi porque, tolinha... no final do dia doía tudo.
Intelectual, foi a parte mais fácil. Ser arquiteta por profissão ajudou bastante. Foi só me considerar outra cliente e pronto.
O emocional pesou.
Objetos e memórias de pessoas que não fazem parte do meu cotidiano atual, ficaram por aqui. Família ascendentes e descendentes, amores, amigos...
Meus resíduos artísticos: quadros, textos, escritos, diários, desenhos, acessórios de balé, ioga, projetos entre outros. Pilhas e pilhas de fotografias, ainda da época do filme de pelicula.
Quilos de livros de todo tipo e cadernos de estudo. Sem mencionar tudo.
O resultado vai ser satisfatório, já está sendo...
O que me dei conta, e já havia comentado com uma filha afetiva, é a posição de guardiã da história de muita gente, em imagens, e papelada. Além disso muitos já não estão presentes fisicamente nesse mundo.
Minha mãe que já se foi há muito, de quem guardei porcelanas pintadas e trabalhos manuais. Tantos outros queridos que me fizeram sentir como se a casa tivesse se tornado um museu ou um santuário.
Como morar num santuário?
No inicio da tarde fiquei quieta contemplando a situação procurando onde estaria o aprendizado disso tudo...
LINHAGEM FAMILIAR
A presença material de todas essas pessoas e suas memórias me constroem e nutrem; assim como aos meus descendentes.
Não há nada de pomposo nem arrogante nisso.
É simplesmente a vida. Como os tapetes de flores que fotografo no Jardim Botanico.
Uma vez uma amiga pediu pra não mostrar flores que não fossem viçosas e nem as caídas do pé.
A beleza da existência está na diversidade assim como o significado das lembranças em forma de objetos ou não , simbolizam a presença da caminhada desses seres e como eles permanecem em mim como vão ser herdados pelos filhos e afetos que continuarem por aqui além da minha existência.
Bom carnaval!


Rio, 06 de março de 2019
Texto&imagem Barbara Rachid

Imagem do meu cantinho de pintura e arte.

QUAL É A SAÍDA?

Adoro ir ao hortifruti, rede de mercados especializado em hortifrutigranjeiros e etc. Aquela abundancia de alimentos, de cores e cheiros é uma festa.
Hoje, segunda-feira de carnaval caminhava pela rua na saída do hortifruti e outra senhora ia na minha frente carregando suas sacola penduradas no ombro, pensei da dificuldade dela, mais idosa que eu pra carregar as compras. Ela desenvolta passou por dois casais com fantasias.
O que chamou a nossa atenção- minha e dela - eram fantasias tradicionais sem nudez e a alegria sóbria deles. Era manhã ainda e se vê de tudo pela rua.
Ela parou para olhar e continuamos a andar juntas.
- Estão bonitas as fantasias. Não se vê mais desse tipo. É tao importante essas festas pros jovens. - minha nova companhia diz.
- Quando criança andavamos com confeti em saquinhos de filó e minha mãe ensinou que quando visse uma fantasia que achasse bonita devia jogar os confetis. - rindo pensei que quase não se vê isso mais.
Sorrindo, ela confirmou .
- Alegria é importante. Ainda mais nesse momento. - respondo.
- Nunca pensei de ver isso acontecendo no nosso país. - ela triste.
- Um mau exemplo, também é exemplo. Pra que não se repita. É uma fase. - eu, tentando animar.
- Pra mim, não faz diferença. Já estou perto de morrer. - num suspiro falou.
Nosso trajeto se separou ali. Ao me despedir ainda insisti, dizendo: Não desanima!
Atravessei a rua pensando como é desanimador viver num país onde um cidadão só encontra a morte como saída...

Tijuca - Rio de Janeiro
Em 04/02/2019